sexta-feira, fevereiro 02, 2007

despeço-me (sem dizer tchau)

À Danielle Portugal

Despeço-me das pessoas da rua.
Da janela, o máximo que sinto é saudade.
Nua, minha vida na cidade velha fica pra trás.
Nada me espera além do que me vem.

Não lembro do que ficou e não vejo mais,
nem faço questão de me perguntar,
pois questões era só o que me via fazer...

Quero viver sem ser capaz de responder a tudo.

Despeço-me sem dizer tchau.
Vou-me embora e não me preocupo em olhar pra trás
e ver além do que me volta à lembrança, e me cansa,
tentar continuar aquém do resto do mundo.

Não vejo ninguém indo do meu lado.
Não há pessoas fugindo do que eu fujo.
À frente só há pegadas
dos sonhos que, um dia, correram atrás de alguém.

Não vejo ninguém indo do meu lado.
Não há pessoas fugindo do que eu fujo.
À frente só há pegadas.
Foi-se o tempo em que se andava de mãos dadas.

medo

Música dedicada ao Zine Literário Demo Cognítio

Mundo, te vi hoje cedo
Olhei nos teus olhos
Confesso, tive medo.

Mundo, me indica um caminho seguro
Onde eu possa andar sozinho
Sem me perder no teu escuro.

Mundo, são tantas promessas de paz,
Ameaças de paz...

Mundo, o que mais me interessa
É ver que a conversa fiada foi paga
Por quem não se desprega da má conduta
Que desperdiça a paciência pública,
Nos colocando em meio à disputa estúpida.
Representação
Que ignora a inteligência súdita
Alguma coisa disfarçada de República.

Não tenho mais nada a dizer
Nem lágrimas.

Não tenho mais nada a expressar a não ser...

Está tudo bem, estou legal!
Não preciso de ajuda pra levantar!
Já me acostumei com o jeitinho brasileiro de ser.


Torturado, execrável
Burro de carga com sorriso estampado
domado, o melhor amigo do homem sem pedigree
Humilhado e permanentemente calado.


Me diz o porquê, me diz o porquê
Medo, medo, medo.

Não tenho mais nada a dizer
Nem lágrimas.

Não tenho mais nada a expressar a não ser...

déjà vu

as visões do passado vigiam meu quarto vazio.
as paredes, o chão e o teto não estão no devido lugar.
a paz dos meus passos de agora se escondem do mundo e de mim,
mas se mostram em meu dé jà vu.

medos, desordem. não sou quem você quer ver.
meus atos e os ritos não vão desaparecer.
receio que os gritos não consigam te convencer
que o pior há de vir e há de nos encontrar bem aqui.

medos, desordem. não sou o que você quer ouvir
meus gritos, meus desagrados vão te afugentar daqui
receio que o pior há de vir transformar nossos sonhos
quando nos encontrar. quando? quando?

nossas criações e reações orientam meu caminhar
me protege do frio, purificam meu sangue.

veja o que os nossos sonhos viraram: história, história.
veja o que os nossos sonhos viraram: história.

quando as visões do passado deixarem meus passos em paz
você descobrirá que não há nada além de um espelho pra ver...

medos, desordem. não sou o que você quer ver
meu rosto, meus gritos não vão desaparecer
receio que o pior há de transformar nossos sonhos
quando nos encontrar. estamos esperando.

primeiro segredo

tenho saudade cansada dos problemas que já resolvi.
tenho saudade de casa, cada caso um reflexo de si.
tenho saudade da rua onde cresci e sentia um pouco de medo.
hoje toneladas de ódio asfaltam meu primeiro segredo.

meus cuidados te roubaram meu passado pequeno.

anestesia

o que acontece com você
os teus olhos vão mostrar
desagrados, desprazer
então se questionar.

tudo com e/ou sem porquê.
não consegue processar.
vê, embora não sinta (não dá tempo, não dá tempo!).
os carros passam mais devagar.

se cansa, ainda sente frio.
não há razão pra chorar (não é direito não!).
lá fora a chuva cai.

o que me cobre o corpo de dentro não sai
aqui fora o mundo em queda
se entristeço, se me estresso, mas não tenho direito,
eu faço das palavras da chuva as minhas.

o que me dói por tudo o que eu vi
não faz daqui um bom lugar pra vir ver.
desagrados, anestesia.
não basta mais fechar os olhos pra se esconder.

lá fora a chuva cai.
não há mais quem a proteja (está jogada ao léu).
se entrega às lágrimas do céu.

perfídia

música dada de presente de aniversário a luiza camilo
em agosto de 2005

demais, bem que eu queria ser.
tenaz, dos tolos o menor.
que mãos me lavam sem saber
dos males o pior?

fugaz anoitecer do qual
meu corpo, inerte, não se refaz.
silêncio!
me sinto entre feras
as quais deveras criei.

se vai acontecer de novo: não! distinto "não" declarei.
me envolvo em caminhos os quais, pro seu bem, não seguirás.
se vai acontecer, de novo:'não! distinto, não me entreguei.
envolto por espinhos, a dor de um abraço a defenderá.

demais bem que eu podia ser
fugaz, dos amores o menor
apraz anoitecer do qual
minha memória não se desfaz.

se vai acontecer de novo: não! distino "não" declarei.
me envolvo em caminhos os quais, pro seu bem, não seguirás.
se vai acontecer, de novo: não! distinto, não me entreguei.
envolto por espinhos, a dor de um abraço a defenderá.

se vai acontecer?: não sei. na escuridão me entreguei.
me envolvo em caminhos dos quais não saberei retornar.
se vai a história de nós dois,
noites de beijos-segredo,
perfídia.

liberdade

(co-autoria de virgínia rezende)

por que essa busca incessante nunca acaba?
estar sempre atrás de uma coisa que se quer?
por que essa busca redundante nunca acaba?
estar sempre atrás de uma coisa que se quer?

e que não existe. e que não existe.
e que não existe. ou até existe,
mas está fora de alcance.

por que nunca a sentimos? por que ela já não faz
parte da vida como todo sofrimento que causa sem estar presente?
por que nunca a sentimos? por que ela já não faz
parte da vida como todo sofrimento que causa sem estar presente?

pra que tanta dor por uma coisa
que não se conhece e não se toca?
dizer que precisa se nunca teve que
lutar por essa tola liberdade...

a repetição é uma forma de argumentação
a repetição é uma forma de argumentação
uma mentira dita cem vezes torna-se verdade.
eu grito uma mentira: liberdade.

a repetição é uma forma de argumentação

a repetição é uma forma de argumentação
uma mentira dita cem vezes torna-se verdade.
eu grito uma mentira: liberdade.

a repetição é uma forma de argumentação.
a repetição é uma forma de argumentação.

impaciência

impaciência com a ciência
cuja lógica me desafia.

consciência: ser sem ter com o que,
querer ser sem ter o que sequer.

se há alguém que o é,
ou se brinco com palavras que deveras não conheço,
é por nada, por luxo,
por máscara pra burro.

enquanto tomo chuva esperando o almoço,
seu moço vem chegando, arrastando minhas paixões.
o resto do meu tempo penso nisso, desisto
e acho graça do que sinto, embora a raiva prevaleça.
seja lá o que aconteça, não mereço nem migalhas
do resto que o seu moço me deixou.
e nem sob tortura, não importa a cura
não perguntarei a alguém por que assim estou.

se há alguém que o é,
ou se brinco com palavras que deveras não conheço,
é por nada, por luxo,
por máscara pra burro.

desculpe-me se me expresso mal, meu caro animal!
mas é que só me comunico e só, comunico-me comigo.
só me comunico a quem se diz meu amigo.

minto! me comunico quando só.